Entrevista com Samira Ávila


Nome: Samira Ávila
Profissão: Atriz, professora e jornalista.


- Qual o seu ponto de vista em relação ao trabalho do artista? Você considera o fazer artístico uma profissão?
O Fazer artístico é uma profissão. O artista se forma ao longo da sua vida e das suas experiências vividas. Temos nossas formações em vários âmbitos e todos eles afetam o trabalho do artista. Tem a formação técnica ou acadêmica, fundamental para o início da profissão. Depois, temos a prática (que pode e deve acontecer junto à formação técnica e acadêmica). E temos a própria vida, as experiências vividas: essas afetam diretamente o trabalho do artista, pois é da vida que os artistas se alimentam. Afinal, fazemos coisas VIVAS. Toda obra é única, porque é de um ser específico. Dois quadros de flores, bem básicos. Serão sempre diferentes. Porque cada um foi feito por um artista, que possuem uma formação, uma experiência e uma estória pessoal específica. A formação do artista – a técnica, a prática e a pessoal – é longa e dura sua vida inteira. Porque cada obra é uma nova criação, algo novo. Não há fórmula em arte, portanto o artista está em constante formação.
E, eu, pessoalmente vivo de arte e de cultura. Em vários âmbitos: como atriz, diretora, professora, gestora cultural de um programa de arte-cidadania (Valores de Minas). Sou também jornalista, mas atuo somente quando tenho tempo na área. O artista hoje precisa ser multifacetado, em minha opinião. Ver e entender o mercado de trabalho e ver onde o artista pode e deve atuar. Sou atriz, mas não quero estar só nos palcos. Existem hoje outras questões – como a social – que me mobilizam como artista. Nossa profissão requer sensibilidade para entender quais as diversas funções da Arte na nossa sociedade.  
- Você acha que existe algum preconceito das pessoas em relação a quem escolhe a arte como profissão?
Sim. Tenho muitos jovens estudantes de arte e não é sempre que vejo as suas famílias os apoiando. O artista já teve, no passado, uma imagem e uma realidade– necessária às diversas épocas e momentos históricos – de um ser à margem da sociedade. Eram contestadores, “não compreendidos”, excêntricos, libertários e sempre ou quase sempre relacionados à informalidade de trabalho, à drogas e à boêmia. Tenho 31 anos e não vivi nada disso. Hoje, ser artista requer mais disciplina do que tudo. Senão você não sobrevive. Requer graduação, mestrado e doutorado. Requer conhecimento de políticas públicas e seriedade para trabalhar. Requer ser e agir como profissional, senão você não trabalha no mercado. Talento é uma palavra atualmente desvalorizada em comparação è profissionalismo e competência.
Mas, é claro que não posso negar que é uma profissão com menos garantias financeiras. Entre cortar um médico e um artista do quadro de funcionários em uma crise, o artista sai em primeiro lugar! Daí vem o medo de tantos pais quando escutam seus filhos dizerem que serão artistas! Por isso mesmo o artista tem que ser multifacetado e se exigir mais – em formação e competências - para se garantir. Além de participar ativamente das políticas públicas que garantem a cultura no país.
- Existem dificuldades do trabalho com a arte?Se sim, quais?
 Várias, como em todas profissões. Para mim a mais grave: o trabalho informal. São poucos os grupos, empresas e associações que conseguem contratar o artista com os direitos trabalhistas (carteira assinada). O mercado ainda gira na lógica da prestação de serviços, o que é extremamente preocupante.
- Os profissionais da arte utilizam outros meios para garantir sua sobrevivência com trabalho artístico? Se sim, como?
 Sim, abrindo o leque de formação e capacitação. Não sendo apto a somente uma função, mas sim a várias dentro da arte. Por exemplo: um ator que também é produtor, faz iluminação, figurinos e trabalha na educação.
- Para você qual é a importância da arte e do trabalho do artista para a sociedade?
Acho que essa é uma boa pergunta para quem não é artista. Qual a importância para vocês da nossa existência?
Nós sabemos a nossa. A arte é um mecanismo de transformação poderosíssimo. A arte é necessária desde sempre, porque o ser humano precisa de subjetividade. Nós sabemos por que fazemos arte. Precisamos saber se e por que vocês acham importante!
- Para você, o que deve ser feito para que esse difícil cenário de sobrevivência mude?
O Brasil, muito jovem país, precisa entender as potencialidades da arte e da cultura. E valorizá-la e usá-la como ferramenta fundamental da afirmação e sobrevivência da nossa cultura. Isso é um pensamento mais consolidado e claro em países mais antigos e com menos problemas básicos (a saúde, a educação e a distribuição de renda, por exemplo.).